Contos do Esquecimento
-
Categoria hospedeira: Programação
DIA 24 JUL | 20H30 | IPDJ
CONTOS DO ESQUECIMENTO
Dulce Fernandes, Portugal, 2023, 63’, M/12
parceria entre a SAfA e o Cineclube de Faro
sinopse, ficha técnica e trailer: aqui
nota da realizadora
Nasci em Angola em 1973, na altura um território sob o domínio colonial português. Filha de colonos portugueses numa terra ocupada e explorada durante séculos, sinto-me profundamente marcado pela experiência do colonialismo. Como cineasta, interessa-me investigar o passado colonial da Europa (de Portugal, em particular), as construções da memória coletiva e os vestígios desse passado no presente.
O meu impulso inicial para desenvolver Contos do Esquecimento encontra-se num sentimento de recusa em aceitar a negação coletiva em torno do papel de Portugal no tráfico transatlântico de escravizados. Enquanto crescia, ensinaram-me na escola que Portugal é um país com uma grande história marítima, uma nação de gloriosos marinheiros que enfrentaram mares desconhecidos para “descobrir” o mundo. O luso-tropicalismo, um eufemismo desenvolvido nos últimos anos da ditadura que governou Portugal até à revolução de 1974, afirma que os portugueses tinham uma inclinação especial para se adaptarem aos “trópicos”, para se “misturarem com outros povos e culturas”, criando assim um império ultramarino de “paz racial e desenvolvimento fraterno como nenhum outro”.
Novas vozes começam agora a ocupar o espaço público em Portugal, desafiando estas narrativas ficcionais de uma gloriosa história colonial e apelando ao exame da história do país. Em Portugal, como noutros locais das margens do Atlântico, já não é possível ignorar o passado.
Neste contexto, Contos do Esquecimento é um filme-território onde já não podemos negar que vivemos no tempo futuro dos nossos antepassados. A história vive nos nossos corpos e nas nossas almas. Perante a impossibilidade de mudar o que já aconteceu, pretendo que Contos do Esquecimento seja um espaço cinematográfico onde não temos outra hipótese senão olhar para a forma como o presente continua a ser moldado pelo passado.