TRÁS-OS-MONTES
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Categoria hospedeira: Programação
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in Ciclo do mês
DIA 17 ABR | 21H30 | IPDJ
Colaboração com a Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema
TRÁS-OS-MONTES
António Reis e Margarida Cordeiro, PT, 1976, 111’
sinopse e ficha técnica: aqui
notas
António Reis e Margarida Cordeiro criaram, em conjunto, uma das obras mais influentes da história do cinema português. Os seus filmes lidam com comunidades rurais rituais e paisagens, misturando realidade, ficção, etnografia e poesia numa pesquisa singular sob a região nordeste de Trás-os-Montes.
Reis e Cordeiro desenvolveram a sua visão cinematográfica a par dos seus empregos regulares: Cordeiro como psiquiatra, Reis como poeta, crítico de arte e professor de cinema. O trabalho fílmico da dupla reconhece as ligações íntimas entre os elementos e a vida humana, estabelecendo paralelos entre a erosão dos solos e a destruição das espécies vegetais com o desaparecimento de populações regionais.
Realizados durante anos de turbulência política e de rápidas mudanças socioculturais os filmes de Reis e Cordeiro funcionam agora como arquivos vivos. Observando as comunidades rurais, estudando a sua história e reconhecendo tanto a sua dignidade como a sua singularidade, Reis e Cordeiro desenvolveram uma forma singularmente não-naturalista de retratar o mundo que os rodeia. - Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema.
“Trás-os-Montes” continua a perseguir-me. Vi duas vezes este filme maravilhoso onde os realizadores portugueses António Reis e Margarida Cordeiro cantam o seu povo. Numa das partes do filme deixam existir em simultâneo o passado e o futuro do seu povo através de cenas de sonho na floresta, sobre os rochedos: lendas celtas do mundo de Portugal. A dosagem do som no filme é de um grande rigor e por vezes o seu som implanta-se no grande silêncio das paisagens, dos rochedos, das árvores, todas ligadas por uma força secreta e poética aos valores elementares e sólidos da vida quotidiana destes montanheses isolados, longe da “capital”, longe das leis do país. Para mim, os autores conseguiram criar o sentimento do espaço de “Trás-os-Montes”, pela longa duração das distâncias. Penso em Dovjenko, grande poeta do ecrã. O apito agudo do comboio, o grito que rasga o movimento romântico do fumo, é um sinal claro, imediato, bem compreendido no final do filme. O espectador fica em alerta sobre o Portugal acordado, em vias de se libertar. Ao longo de todo o filme, os realizadores mergulham na história e na memória do seu povo. - Joris Ivens, carta ao diretor do Centro Português de Cinema, 1976
Este filme é para mim a revelação de uma nova linguagem cinematográfica. Nunca, que tenha conhecimento, um realizador empreendeu com tal obstinação a expressão cinematográfica de uma região: quero dizer, essa comunhão difícil entre os homens, as paisagens, as estações. Só um poeta insensato podia pôr em circulação um objeto tão inquietante. Apesar da barreira de uma linguagem tão áspera como o granito das montanhas, aparecem, de repente, na curva de um caminho novo, os fantasmas de um mito sem dúvida essencial, porque o reconhecemos mesmo antes de o conhecer. - Jean Rouch, Libération, 25, 26, 27 de março 1978
Cópia digitalizada pela Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema.