AS FILHAS DO FOGO + OSSOS
-
Categoria hospedeira: Programação
DIA 6 ABR | 17H | IPDJ
69º Aniversário CCF
sinopses, fichas técnicas e trailer: aqui
AS FILHAS DO FOGO
Pedro Costa, PT, 2023, 9’, M12
OSSOS
Pedro Costa, PT/FR, 1997, 94’, M/16
No primeiro, uma curta musical cheia de profundidade emocional e estética, Costa mergulha no lamento de três irmãs separadas pela erupção do vulcão do Pico do Fogo, num filme onde a dor e o fogo são elementos tão vibrantes quanto a música que as acompanha. Interpretadas pelas cantoras Elizabeth Pinard, Alice Costa e Karyna Gomes, estas três mulheres, à semelhança de outras figuras do autor, cantam as dores de uma tragédia que ultrapassa o tempo.
Com o magnífico restauro 4K de OSSOS, teremos a oportunidade de (re)descobrir um dos filmes mais impactantes e incómodos do cinema português, um drama minimalista e austero que representa a desesperança dos que vivem nas margens da sociedade. Medeia Filmes
A nova curta-metragem de oito minutos de Pedro Costa, As Filhas do Fogo, é mais ousada, mais complexa do ponto de vista formal e mais bela do que qualquer outro trabalho recente que se possa imaginar, independentemente da sua duração.- Daniel Gorman - inreviewonline
OSSOS
"Bom dia. É a Clotilde", repete invariavelmente uma das personagens do filme quando inicia o seu trabalho-a-dias, nas casas onde nunca se encontra ninguém. Ninguém, isto é, nós, que nos alheamos por completo da vida de outros que nos limpam a casa ou andam por aí ao "deus-dará" e moram em bairros "estrelas-de-áfrica". Incomodam-nos, ignoramo-los.
Talvez seja este o filme mais brutal que alguma vez vi sobre a miséria. Uma miséria de magreza descarnada até aos ossos. Um filme violento (uma violência mansa, mas não menos cruel) que Pedro Costa realiza para nos despertar, sem qualquer panfletarismo ou voyeurismo paternalista. Pedro Costa mostra - e é tudo. Tudo porque aqueles corpos, aqueles olhares, não têm história mas sim histórias (o fait-divers de um bébé que anda aos tombos — que ironia dolorosa...). Tudo porque o que nos é mostrado é um poema de planos precisos, magníficos na irredutibilidade do silêncio, das cores frias (a cor é como se fosse a preto e branco). Não se pode falar deste filme senão pela emoção. A emoção de vermos uma fatia da humanidade que se assume como fantasma. Ao ritmo entorpecido de uma pedrada.
Nós aqui tão perto. Nós aqui tão longe. Entrar neste filme é assim uma experiência de espreitar por portas entre-abertas à procura de um sinal. Sinais que são tentativas de suicídio, mas também de solidariedade entre mulheres de voz cansada. Sinais que são viver como for possível, mas também uma festa onde se dança, e um meio-sorriso final. Os sinais são, afinal, o manifesto respeito pelos outros.
Não há contemplações possíveis. Nada existe para nos tranquilizar, mas sim para inquietar. De uma beleza pungente. Como o travelling que o resume - um bébé recuperado do lixo e que pressentimos ser levado pelo pai num saco de plástico... Num filme onde o silêncio impera irrompe um grito - dentro de nós: Ossos não se assume como relicário, está aí para nos abrir os olhos ao insuportável.
E por isso mesmo é tão belo. E por isso mesmo é uma obra-prima. E por isso mesmo é tão pouco possível dele falar.
Graça Lobo / Faro, Junho de 1998 / Ciclo Um Ano de Estreias de Cinema Português, CCF (Junho 1998)
Um sombrio e belo filme poutuguês...
"Ossos" de Pedro Costa, é uma obra impressionante de sobriedade. Jean Michel Frodon, Le Monde, 1997
Ainda tínhamos um sorriso amarelo quando Pedro Costa nos veio apertar o pescoço. Falta-nos espaço para dizer o que foi o choque OSSOS, para dizer a que ponto é emocionante ver um cineasta tão jovem tratar elementos tão pouco manejáveis - a miséria, o instinto de sobreviência, o peso esmagador de uma responsabilidade, o remorso e o desejo de fuga - e inventar sem cessar soluções puramente plásticas para uma temática tão pesada, delas fazer um combate entre luz e sombra, uma pura confrontação de desejos. Assim, fazendo o espectador perder-se, imergindo-o num abismo de que não sairá indemne. Costa escapa a qualquer miserabilismo. Ele escolhe antes dar a sentir mais do que tentar explicar o irredutível, prefere os olhares aos discursos e toma todo o tempo necessário para que o silêncio - única resposta possível a uma infelicidade que não se pode combater - se torne enfim palpável. - Frédéric Bonnaud, Les Inrockuptibles, 17.09.97
OSSOS é um filme que envelhece muito bem. - Emmanuel Burdeau, Cahiers du Cinema, nº 517, 10.97