Professor Lazhar
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Categoria hospedeira: Ciclo do mês
15 OUT | IPDJ | 21H30
Professor Lazhar/ Monsieur Lazhar, Philippe Falardeau, 2011, Canadá, 94’, M/12
trailer, sinopse e ficha técnica: aqui
críticas:
A difícil arte de ser professor
Foi a produção do Canadá que conseguiu chegar à nomeação de melhor filme estrangeiro, nos Oscars referentes a 2011: "Professor Lazhar", de Philippe Falardeau, propõe um retrato empenhado e rigoroso ds relações no interior de uma escola.
[...]
Digamos, então, que se trata de uma abordagem da difícil arte de ser professor. Mas não de forma abstracta ou "panfletária". Nada disso: o argumento de Philippe Falardeau (que acumula as tarefas de realização) parte de uma situação tão particular quanto perturbante. Desde logo, porque Lazhar (notável composição de Mohamed Fellag) é um argelino que dá aulas enquanto aguarda pela concessão do estatuto de refugiado político no Canadá; depois, porque os seus alunos vivem a herança traumática da sua anterior professora (que se suicidou na própria sala de aula).
Acima de tudo, Falardeau manifesta um extremo empenho em não simplificar personagens e situações, concedendo-lhes o direito a uma vivência própria e irredutível. "Professor Lazhar" não só contraria as visões mais simplistas (leia-se: típicas de telenovela) de crianças e adolescentes, como o faz a partir de uma subtil direcção de actores. De facto, não é todos os dias que vemos os mais jovens ser dirigidos com este empenho e rigor. Em causa está uma visão exigente que não os reduza a meros apêndices dramáticos do universo dos adultos.
João Lopes, rtp.pt/cinemax
]...] Numa escola primária de Montreal, Bachir Lazhar, um imigrante argelino é contratado para substituir uma professora que se suicidou na sala de aula. Ao mesmo tempo que ajuda os alunos a lidar com a dor, a sua recente perda é também revelada. Nomeado para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, Professor Lazharé um conto mordaz e poderoso sobre um professor substituto que traz aos seus alunos humanidade, excelência e encanto.
A morte a dor associada a ela sempre foi uma temática capaz de puxar pelo que há de melhor nos cineastas. Basta lembrar, e pegando meramente em dois exemplos, o clima trágico e arrasador em “O Quarto Do Filho” (de Nanni Moretti), ou de uma cidade inteira em “O Futuro Radioso” (de Atom Egoyan). O lidar e superar essas tragédias comuns a qualquer um de nós (afinal de contas, todos nós perdemos inevitavelmente alguém na vida), são os elementos unificadores neste “Professor Lazhar”, mais uma daquelas obras que andou perdida na rota da distribuição portuguesa e que chegou aos cinemas timidamente por uma distribuidora “novata” com quase dois anos de atraso.
Baseado na peça Bachir Lazhar de Evelyne de la Chénelière, “Professor Lazhar” acompanha um imigrante argelino de meia idade (interpretado por Mohamed Saïd Fellag) que vai dar aulas para uma escola, substituindo uma professora que se suicidou numa das salas - permitindo que os alunos tenham de lidar com isso e com o trauma daí resultante. Desde então, cada um dos alunos desta turma vê e lida com a situação à sua maneira, denotando-se genericamente uma incompreensão pela atitude.
A este drama de emoções muitas vezes reprimidas e de (in)compreensão, em particular por dois dois desses jovens (Alice e Simon), acresce o drama pessoal de Lazhar, um homem marcado por uma vida trágica e que aos poucos tenta superar as feridas internas.
No final das contas, quer Lazhar quer os jovens acabam por de certa maneira se ajudarem mutuamente a superar os seus dramas e mazelas internas, ainda que apesar de tudo não se possa falar de uma receita, fórmula ou cura, até porque cada uma das personagens lida com a situação de forma diferente e comporta uma maior ou menor maturidade. Ao invés, o filme investe pacientemente no crescimento pessoal e num chegar aos termos com a morte (e o que ela representa), algo que Philippe Falardeau consegue executar sem nunca ter a necessidade de recorrer a generalizações (clichés), mecanismos sensacionalistas ou excessos dramáticos, que bem podiam transformar este filme num drama manipulador e chorão, coisa que felizmente não é.
Uma nota final para o bom trabalho de Mohamed Saïd Fellag no papel principal e para a boa direção de atores no elenco infantil, que muitas vezes é chamado a agir com elevados e complexos níveis de dramatismo, normalmente difíceis de interiorizar por crianças tão novas.
Jorge Pereira, c7nema.net