O Fantástico Sr. Raposo / Fantastic Mr. Fox

 QUINTA-FEIRA -  6 JUN - Esplanada IPDJ -  21H30

O FANTÁSTICO SENHOR RAPOSO, Wes Anderson, EUA, 2009, 87’, M/6

ficha técnica, sinopse e trailer: aqui

críticas

[...] a sexta longa-metragem de Wes Anderson (que constitui, também, a sua primeira incursão no cinema de animação) é um dos mais belos filmes que [...] poderemos ver — no grande ecrã ou fora dele. O que temos, aqui? Uma adaptação inteiramente filmada em stop motion, do livro para crianças com o mesmo nome de Roald Dahl sobre uma família disfuncional de raposas que se envolve numa luta sem tréguas com três malévolos fazendeiros. O resultado do projeto é magnífico. Quanto mais não seja porque o filme de Anderson se mantém fiel ao imaginário de Dahl e às ilustrações originais de Donald Chaffin, sem se desviar um milímetro dos seus temas (a família, a adolescência, a inadequação...) e, sobretudo, da sua estética. De facto, aqui como em "Os Tenenbaums", "Um Peixe Fora de Água", ou "The Darjeeling Limited", Wes aposta forte numa mise en scène antinaturalista que se define pela composição em profundidade dos plano (há sempre diversas camadas de sentido que se estratificam no interior de um mesmo plano) e pela continuidade vertical e horizontal de um espaço cénico artificial que parece não ter fim, Quanto à banda sonora, essa, continua a ter, no cinema de Anderson, não a função meramente decorativa que a maioria dos realizadores contemporâneos lhe atribui mas antes a função de catalisar e de interpretar as ações. [...]
Vasco Baptista Marques, Expresso

 

[...] “Fantastic Mr. Fox” é um excelente filme, que nem por ser um filme de animação se desvia um milímetro do estilo e do universo de Wes Anderson, antes os acolhendo, reiterando e ecoando de maneira quase genial. Semelhante coisa não se voa dsede “A Noiva cadáver” de Tim Burton, mas Burton tem uma longa "história" com a animação e Wes não. Se Burton é Disney e a fantasia pura, Wes Anderson é mais Jiri Trnka: animação "realista" , no tratamento do espaço, dos movimentos de câmara, dos enquadramentos. O arcaísmo do cartão pintado e da iluminação natural...
E se Burton é Disney, Wes Anderson é mais Roald Dahl. Ou Roald Dahl "meets" os Beach Boys, quando vemos o jovem Sr. Fox e a futura Sra. Fox (que fazem jus ao nome, ou seja, são raposas) a pilharem galinheiros com o entusiasmo de uma parada nupcial, ao som de "Heroes and Villains" (a banda musical é tão heteróclita como de costume; também se ouve Burl Ives...). Wes adaptou a história do escritor britânico, tarefa em que contou com a ajuda de Noah Baumbach, com preocupações obsessivas: instalou-se na casa de Dahl, e reproduziu o seu escritório e os seus objectos, transformando-os no escritório e nos objectos do Sr. Fox. Com uma âncora firme na letra da história de Dahl, wesandersonizou o que havia para wesandesonizar: estas raposas e demais animais são parecidas com as famílias dos Tennenbaums, com a equipa de Steve Zissou ou com os irmãos do "Darjeeling", têm a obsessão habitual com a organização e com os "planos" (fazer parte de um grupo que funcione como grupo - não há desejo mais caloroso para as personagens de Wes), os mesmos acessos de irresponsabilidade infantil, a mesma ânsia por se sentirem aceites e reconhecidos (e merecerem, no caso envergar um "chapéu de bandido”). A antropomorfia é, psicologicamente, total, como se o aspecto animal exterior fosse um lembrança do confronto entre natureza e sociedade: "porque eu sou um animal selvagem", justifica-se Sr. Fox (Clooney) à Sra. Fox (Streep) assim resumindo o paradoxo da sua condição - uma raposa, que pensa como um homem, e que por isso se justifica com o facto de ser uma raposa. Complicado? Não: fantástico, Sr. Anderson. (E o adeus ao lobo, ao lobo que é o verdadeiro "animal selvagem" desta história, também não está nada mal como moral da história).
Luís Miguel Oliveira, Público

 «O FANTÁSTICO SR. RAPOSO» – UMA HILARIANTE ANIMAÇÃO EM STOP MOTION
Depois de ter realizado, «The Darjeeling Limited» (2007), «Um Peixe Fora de Água» (2004) e «Os Tenenbaums – Uma Comédia Genial» (2001), Wes Anderson cria «O Fantástico Sr. Raposo», uma longa-metragem de animação com um elenco de luxo. Uma animação em Stop Motion (do inglês significa, Imagem Parada; é uma técnica de animaçãofotograma a fotograma.), abdicando do 3D que está na moda. Não é a primeira vez que Anderson usa a técnica do Stop Motion. Já a tinha usado em pequenas sequências no filme «Um Peixe Fora de Água» (2004). O filme é uma adaptação da obra de Roald Dahl, escritor britânico famoso pelos livros «Charlie ea Fábrica de Chocolate» e «James e o Pêssego Gigante», ambos adaptados para o cinema.
A história é sobre uma raposa que rouba, galinhas, patos e perus, às quintas vizinhas e fábricas de agricultores, para alimentar a sua família. Quando o Sr. Raposo se muda com a sua família para uma nova casa, numa árvore, este encontra a oportunidade de roubar as três maiores fábricas da região. Mas para isso tem de enfrentar os terríveis agricultores – Boque, Bunco e Bino. Estes homens farão tudo para eliminar a raposa, de vez.
Uma animação para adultos e também para crianças, «O Fantástico Sr. Raposo» é, sem dúvida, das melhores animações em Stop Motion, alguma vez feita. A certa altura, o filme assume um ritmo frenético de perseguições, muito hilariante, graças a esta técnica. A Banda Sonora é original, composta por Alexandre Desplat e com algumas músicas dos The Beach Boys e Jarvis Cocker. É uma mistura de sons, Westerns, música Country, músicas dos anos 60 e música instrumental. A fotografia é bela, com tons amarelos, laranjas e castanhos.
O elenco é de luxo; Wes Anderson juntou George Clooney, Meryl Streep, Jason Schwartzman, Owen Wilson, Willem Dafoe, Michael Gambon e Bill Murray, com excelentes interpretações.
É com muita pena, que este filme não tenha estreado nas salas de Cinema em Portugal. A estreia estava marcada para 28 de Janeiro de 2010, mas foi cancelada, por não ter tido muito sucesso noutros países o que é de lamentar. De facto um filme destes merecia ser visto no grande ecrã, ao contrário de muitos outros filmes que passam, mas não deviam. Com tudo isto o filme saiu prejudicado, pois a generalidade dos espectadores não ouviu referências a ele.
Este filme esteve nomeado para 2 Óscares da Academia, de Melhor Banda Sonora e Melhor Filme de Animação, não tendo ganho nenhum prémio. Apesar de merecer os Óscares, a concorrência era muito forte, sendo que «Up – Altamente» era o favorito. A escolha foi complicada, ambos mereciam ganhar os dois Óscares, mas só um pode ganhar. «Up – Altamente» foi o vencedor dos dois Óscares. Esperemos contudo que Wes Anderson continue a fazer grandes filmes com o seu típico humor!
Tiago Resende, cinema7arte