Super Natural
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Categoria hospedeira: Programação
26 OUT | IPDJ | 21H30
ENTRADA LIVRE
SUPER NATURAL
Jorge Jácome, Portugal, 2022, 85’, M/12
com a presença de André e. Teodósio, coargumentista.
notas do realizador
SUPER NATURAL é um filme criado em colaboração com as companhias de artes performativas Dançando com a Diferença e o Teatro Praga.
A companhia de dança Dançando com a Diferença, sediada na Ilha da Madeira - fundada em 2001 com a missão de juntar pessoas com e sem deficiência para a criação de objetos artísticos - convidou-me a mim e ao Teatro Praga, de Lisboa - fundado em 1995 e vocacionado para o desenvolvimento de trabalhos de teatro, performance, curadoria e pedagogia - para criar uma nova obra em colaboração com a sua equipa artística.
A aliança começou simplesmente por passarmos tempo juntos na Madeira. Não foi apenas para nos conhecermos, mas também para aprender e compreender o contexto dos membros da companhia - tanto em relação ao seu ambiente familiar, como a sua relação com a geografia da ilha.
Quando regressámos à ilha para filmar - já no meio da pandemia - sabíamos que queríamos que o filme fosse uma viagem que contemplasse os primórdios da humanidade o futuro incerto do planeta.
Esta viagem narrada é longa mas simples. Tudo surge e evolui a partir da água, das plantas e do oxigénio, e os seres vão-se desenvolvendo e multiplicando de acordo com vários critérios de desejo: dos padrões de pele às cores das unhas.
SUPER NATURAL desenrola-se - com o espetador como parte dele - sustentado na experimentação que é o próprio ato de existir. A cidade de betão funde-se com a ilha, como a comida com o estômago ou as constelações com a nossa compreensão do céu. Tudo despoleta tudo, e tudo se relaciona numa experiência sensorial reforçada por cores, paisagens e sons.
SUPER NATURAL revela que "o natural", seja de um corpo ou de um objeto, é sempre mais complexo do que parece. A linha de pensamento do filme desmente conceitos como "inclusão" e "diferença", preferindo procedimentos e historiografias sobre o processo de humanização que entrelaçam a física quântica com a neurologia, a biofísica, a engenharia e a poesia.
SUPER NATURAL passa-se numa ilha habitada por biologia que sobreviveu à Idade do Gelo e nasceu de uma convivência entre espécies endógenas e a presença humana, informada por várias migrações e pelos vestígios de transeuntes que a atravessaram e continuam a atravessar. Os planos do filme revelam paisagens habitadas pelos intérpretes de Dançando com a Diferença, como se estivéssemos a folhear um álbum de retratos. Oferecendo um espaço de improvisação dos intérpretes em locais tão diversos como uma piscina natural, um jacuzzi, um jardim, um orquidário, as camas das suas casas, um teleférico ou um spa.
SUPER NATURAL coloca o espetador em confronto direto com a multiplicidade do "natural".
SUPER NATURAL foi concebido desde o início como um filme performativo: um filme que procura constantemente interferir e interagir com o que está à sua frente.
O filme começa por agradecer a presença do público na sala de projeção, projectando-se na sala, num desejo de ver o espaço e os espectadores reunidos. Quando a voz e a luz se instalam no ecrã, a viagem começa, em capítulos ou etapas, através de imagens captadas em múltiplos suportes: câmaras de vigilância, telemóveis, filmes e cassetes de vídeo. A par destas imagens, o próprio filme fala ao público, através de texto escrito e uma voz inspirada em atmosferas meditativas, intensificando esta relação entre filme e público, procurando uma osmose que é ela própria uma afirmação sobre a existência e a ontologia fílmica.
SUPER NATURAL propõe um mundo em que os atores são seres humanos, assim como uma sereia, um maracujá ou um gato, em que as emoções e as lágrimas do público que vêem o filme são tão complementares à ação como as dos filtros do Instagram, ou em que o som do vento, captado em puro cinema vérité, é tão musical como uma batida eletrónica.
Nesta história do cinema e dos media, saímos do centro urbano do Funchal, capital da Madeira e entramos nos quartos onde dormem os actores. Passamos das piscinas naturais para a base colossal de um aeroporto construído sobre uma praia.
SUPER NATURAL guia-nos na viagem da vida, partilhando contextos, geografias, curiosidades históricas, videoclips, confissões e momentos de humor, culminando numa proximidade que confunde olhares, ficção e realidade, drones com pássaros e robots com aranhas. E assim, as vidas retratadas que cavalgam com a passagem do tempo registada no filme tornam-se cada vez mais diversas, tão diversas quanto os seus actores - humanos, não-humanos, míticos, ou robóticos. SUPER NATURAL é isso: movimento perpétuo. Encontrar no movimento e e na sua continuidade um superpoder. SUPER NATURAL é uma ode a todas as forças da vida.
Parceria com DeVIR/CAPa - Centro de Artes Performativas do Algarve, no âmbito do Festival Encontros do DeVIR