A Flor do Buriti
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Categoria hospedeira: Programação
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in Ciclo do mês
IPDJ | 21H30
DIA 6 JUNHO
A FLOR DO BURITI
João Salaviza e Reneé Nader Messora, BR/PT, 2024, 124’, M/12
sinopse, ficha técnica e trailer: aqui
nota de intenções
O filme nasce do desejo em pensar a relação dos Krahô com a terra, pensar em como essa relação vai sendo elaborada pela comunidade através dos tempos. As diferentes violências sofridas pelos Krahô nos últimos 100 anos também alavancaram um movimento de cuidado e reivindicação da terra como bem maior, condição primeira para que a comunidade possa viver dignamente e no exercício pleno de sua cultura. As complexas relações entre aldeias e comunidades envolventes, as memórias que são construídas coletivamente, os sonhos e as presenças do invisível compõem a argamassa que servirá de pretexto para que essa história possa emergir. O passado e o presente existem ao mesmo tempo e lançam luz para algumas possibilidades de futuro. Os desafios que os Krahô enfrentam hoje encontram eco em todo o nosso continente.
O que contamos aqui, num contexto extremamente específico e peculiar, é também a história dos povos indígenas sul-americanos. Se as formas de violência são múltiplas e capazes de aniquilar nações inteiras, as formas de resistência são potentes, vibrantes e recriadas diariamente. Hyjnõ, Patpro e Jotàt são sobreviventes do fim do mundo. Através do olhar deles somos convidados a entrar na aldeia, percorrer as veredas, perceber os problemas e participar na resistência. O filme é um apelo à ação e ao confrontamento, sem nunca perder de vista a beleza e a delicadeza da maneira Krahô de pisar na terra e de pertencer ao mundo.
Renée Nader Messora João Salaviza
OS KRAHÔ
O povo Krahô faz parte de um conjunto sociocultural mais amplo, composto por outros seis grupos ameríndios, conhecidos como povos Timbira. Estes povos autodenominam-se mehi ("nossa carne" ou simplesmente "nós, humanos") e falam línguas de um mesmo conjunto dialetal, pertencente à família linguística Jê. Diferenciam-se de outros povos ameríndios por certas características em comum, tais como a ornamentação corporal e o corte de cabelo, a forma circular de suas aldeias, a prática de correr com toras e um vasto corpus de mitos e rituais. A aldeia (kri) é composta por um pátio central (kà) e por um caminho circular (kricape), que conecta as casas (ihkre) formando um grande círculo. As casas são formadas por mulheres que descendem de uma mesma linha feminina, ao passo que os homens, ao casarem, deixam as suas casas maternas e vão viver com seus afins. Da frente de cada casa sai um "caminho limpo" (prykarã) que leva ao pátio, onde acontece boa parte da vida cerimonial. De trás de cada casa, saem outros caminhos, que levam ao rio, às roças, aos locais de caça, à cidade e à aldeia dos mortos.
Antigamente, os Krahô ocupavam um amplo território no Brasil Central, hoje reduzido a Terra Indígena Krahô, demarcada na década de 1940 depois que fazendeiros da região promoveram um massacre, em que mais dezenas de indígenas foram assassinados. O último censo (2018) estimou a população krahô atual em cerca de 3500 indivíduos, que vivem em 35 aldeias espalhadas no interior da terra indígena. Este território constitui uma importante área contínua de preservação do Cerrado, biorna que abriga uma enorme diversidade biológica e cultural. O Cerrado é também conhecido como "o berço das águas", por abrigar as nascentes das principais bacias hidrográficas brasileiras, entre elas, a bacia Amazónica. Em razão dos interesses do agronegócio e do mercado mundial de commodities, o Cerrado é, atualmente, um dos ecossistemas mais ameaçados do mundo, sendo quotidianamente devastado com a conivência de grande parte da classe política brasileira. Os Krahô, por sua vez, não percebem o Cerrado e seus habitantes simplesmente enquanto "meio'' e "recursos" a serem explorados. Ao contrário, o Cerrado é por eles concebido como uma complexa teia vital composta por humanos, plantas, animais, espíritos e outros sujeitos que pensam, sentem e agem no mundo. Por meio de antiga convivência e intensa interação com estes outros habitantes, os Krahô desenvolveram sofisticados conhecimentos ecológicos, transmitidos através das gerações por meio de narrativas, cantos e rituais. A vida do Cerrado é, assim, indissociável da presença e dos conhecimentos dos povos indígenas, que estão na linha de frente de uma batalha que diz respeito ao planeta como um todo.
notas críticas
Focado em três períodos da existência dos krahô, no estado brasileiro de Tocantins, de 1940 até aos nossos dias, "A Flor do Buriti", o trabalho mais consistente até à data de Renée Nader Messora e João Salaviza, é uma elegia às múltiplas formas de resistência de todos os povos indígenas. Francisco Ferreira, Expresso
João Salaviza e Renée Nader Messora fogem às armadilhas do olhar etnográfico. E não se esquecem do cinema. Luís Miguel Oliveira, Público
Um filme ainda mais político do que o anterior. Fruto de uma comunhão intensa com a comunidade. Manuel Halpern, Jornal de Letras
Um filme vibrante e comprometido. Le Monde
Uma viagem que toca o sagrado. The Hollywood Reporter
A FLOR DO BURITI faz desabrochar a ecologia no Festival de Cannes. Télérama
Um filme de grande magia poética. Variety